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coisa nenhuma

escrevo o constante contorno
de quando os passos perdem o som
e o sono avança nas pálpebras
pesadas

perenes
lembranças

a memória a herança
uma história, estrada
genética
gentil
me afaga como quando
um rio desaguasse
nos pêlos de ondas vagas
nas contas dum colar

e a saga continua
em nuances e matizes
e texturas e estragos:

gástricos refluxos
rios mares lagos
gosto salgado
de algas
de algum lugar

matas florestas que se entranham
nas arestas dum corpo
um pouco parco
mutilado
- guerras frias
e noites brancas

relevo: andante adorno
perdura e se instala
no timbre macio
no cheiro morno e vazio
da sala de estar
solto

esqueço o prato no forno
forneço-lhe lágrimas tortas
fechamos as portas e abrimos os braços
bradamos delitos
somamos espaços

permeia meus poros e veias
atiça faíscas em mim
rasbica traços com passos
e dedos
me arranha segredos
nas costas

o fruto do vosso ventre,
perdido entre aspas e nós
trepida como bandeira

apruma como leve pluma
ama, cura e cresce
simples e suave,

me amadurece.

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às vezes o coração que dorme levanta escala a garganta coas garra afiada e sai pela boca e eu não digo nada e me chamam de louca eu fico calada os calo na mão, a garganta inflamada, a má dicção, a fala embolada às vezes eu acho que fico engasgada com tanta emoção que encontro a troco de nada eu não sei se tô louca e se louca é ruim eu tô rouca de voz e tô fora de mim mas às vezes é certo sentir-se acuada que é tanto estilhaço que surge na estrada vou catando graveto com a mão e poeira com a sola do pé e um dia ainda dirão que o sujeito mais são é o louco que anda com fé

amor-te

eu passo o passado pra outra medida trancada num fardo de fera e ferida de fato, a vida é a morte esquecida o desejo de volta é o desejo de ida. meu passo é pesado na outra medida não grita nem cala apenas valida a parte da fala que foi corroída: te pertenço morta te pertenço viva. "A nossa  vida  é a mesma coisa que a  morte  -  n'outra medida ." - Cecília Meireles

desp(ed)ida

os estrondos estão prontos para estourar estalos tontos tanto que nos calamos em sussurros, respiros sorrisos, vícios pontilhismo impressionista que a gente precisa em metonímia acasos, pancadas, socos, chutes, um livro de poesia min(h)a - duas taças de argentino troglodita floral sou xiita de amor tal que tardo no retorno ao morno ninho ao murmurinho do meu endereço porque o fogo etílico da cafeína me ensinou - em sina a compensar com pesar uma ausência inata de flores no meu jardim de ímãs na minha geladeira