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às vezes o coração que dorme levanta escala a garganta coas garra afiada e sai pela boca e eu não digo nada e me chamam de louca eu fico calada os calo na mão, a garganta inflamada, a má dicção, a fala embolada às vezes eu acho que fico engasgada com tanta emoção que encontro a troco de nada eu não sei se tô louca e se louca é ruim eu tô rouca de voz e tô fora de mim mas às vezes é certo sentir-se acuada que é tanto estilhaço que surge na estrada vou catando graveto com a mão e poeira com a sola do pé e um dia ainda dirão que o sujeito mais são é o louco que anda com fé
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estrada de chão

por mais que a gente se aguente, descrente, essa tríplice entente ausenta-se, apaga e pressente a tal primavera dos dentes. o grito prolixo velado, um dístico místi-ca-lado sem rima alternada nem verso quebrado é cabeça, ombro, joelho, pé, brado. o cuspe da tua saliva, (por mais que me pareça viva) corrói a parede do estômago o pâncreas, barco à deriva. te espero com forças e formas e farsas e folhas e fardos e escolhas e escapo com rotas e rimas e rodas e remos e rimos, sozinhas, das bolhas e calos nos pés.

amor-te

eu passo o passado pra outra medida trancada num fardo de fera e ferida de fato, a vida é a morte esquecida o desejo de volta é o desejo de ida. meu passo é pesado na outra medida não grita nem cala apenas valida a parte da fala que foi corroída: te pertenço morta te pertenço viva. "A nossa  vida  é a mesma coisa que a  morte  -  n'outra medida ." - Cecília Meireles

sem as mãos

Coração é que nem bicicleta. E ninguém entende minha bicicleta. Ela não desmonta, mas também n'aguenta: se a fizer de tonta, a bicha te arrebenta. O freio é todo gasto, e o pneu, careca - de saber dos rastros e pedaços que deixou pra trás. Tá desalinhada, pedalando dura, toda maltratada, com falha na pintura... O banco não senta, mas sente. O quadro não pinta, mas pende. Às vezes, se faz transparente, que fica difícil de achar, de repente. O guidão tá frouxo, tá sem direção. O bagageiro, gente, perdeu a noção do quanto de peso que já carregou. Das muitas caronas, de uma não esqueço: três anos de mágoa virada ao avesso. Foi aquilo que acabou com o pobre bagageiro. Desde então aprendi que até peso é passageiro. Conserto pra isso não se mede preço. Mas enfim. Ai, meu Deus... Eu mereço: é garfo arranhado, é pneu que é furado, é aro que empena... Coitada. Que pena: minha bicicleta já roubou a cena. Já se desmontou, quando era pequena. Desenferrujou, se recuperou; caiu,

transa

estranhe-se não estrague-me a mão graveto de estrada de chão expurgue-se abuse-me então emane sertão engano ser vão ser til ser trema sermão apresse a prece, pagão o modo de produção a grosso modo: o osso morde o cão o quatro a roda a tração me prova (o trânsito na contramão) me prende (polícia come ladrão) metralha- me traia me transa com a mão me entrega um tu és que eu te dou um te são.
Quero te provar sem pudor, sem parar; depravar, desbravar, sempre a dois, o teu mar sem depois. Quero dar, receber, degustar teu sabor, ser teu par. Quero a boca molhada, as pernas abertas, os lábios inchados, sentidos alertas; aprumar, padecer de prazer. Trupicar e cair em voc ê.

Hiato

O olho de sol y sombra  o gosto de sal y sono  o porte de sorte nômade,  passo pro norte o sul pras dunas de areia e sangue  estanco na veia o corte correndo na pressa, apanho a raiva que às vezes morde   E a frase tropeça frágil no avesso (que então dá certo)  e põe-se cansar do acaso e do resto do vasto (uni)verso - e acata a branda catarse  do berço do véu da fome  (me empresta um pouco teu nome?  devolvo assim que puder) a breve vagante sílaba  (ao passo que afaga a língua) se esconde, arredia e vinga-se. extinta, vazia, atroz. e eu nem mesmo disse um pio e eu nem mesmo ouvi tua voz. a força desse ditongo é a forca de todos nós.